quinta-feira, julho 05, 2007

A mulher perfeita, por Woody Allen

Alguns dos personagens de cinema mais interessantes que eu já vi foram criados ou desenvolvidos pelo diretor Woody Allen. Mais recentemente, os personagens principais de Match Point, Chris Wilton e Nola Rice são especialmente interessantes. Chris, interpretado por Jonathan Rhys Myers, parece passear pelos cenários e pela história lentamente, com a cabeça baixa e em silêncio, como se pouca coisa fosse realmente importante. Claro, isso faz parte da filosofia do personagem sobre a “sorte”. Já Nola Rice, interpretada pela espetacular Scarlet Johanson, faz o tipo de mulher que qualquer homem se apaixonaria perdidamente – e ela sabe disso.

Pergunte a qualquer membro do sexo masculino sobre quais os tipos de mulheres que os deixam bobos e a grande maioria, se não a totalidade, vão citar o tipo de mulher representado pela Scarlet nesse filme. Uma mulher decidida, de atitude, mas que ao mesmo tempo possui uma fragilidade latente – algo que, falando de forma mais “animal”, faz soar nos homens o instinto natural de proteção. É o tipo de garota inteligente e interessante, mas ao mesmo tempo feminina e frágil, que dá vontade de levar para casa sem parecer algo entediante. Isso, descartando totalmente o fato dela ser espetacularmente bela, algo que no próprio filme o Woody Allen tira sarro em um diálogo em que a personagem fala sobre sua irmã, dizendo que enquanto ela é simplesmente sexy, a irmã possui uma beleza clássica. O que é, obviamente, uma referência a própria Scarlet, que possui uma estilo de beleza “clássica hollywoodiana”.

O motivo que me fez escrever esse post foi um dos diálogos do filme. Eu estava zapeando pela TV e passei pelo Cinemax, onde o filme estava mais ou menos na sua metade. Decidi assistir um trecho e pude ver novamente esse diálogo, que sempre me soa extremamente interessante. Estão os dois personagens bebendo em um bar, depois do teste de atriz de Nola (em que ela vai mal), e falam sobre a situação deles com as suas respectivas famílias e “in-laws”.

Nola diz que o Cris vai se dar muito bem na vida, a não ser que ele estrague tudo, ao que ele indaga: “E como eu estragaria tudo?”. Ela, brincando com uma mecha de cabelo de forma extremamente sexy responde “Tentando alguma coisa comigo.”. Ele pergunta porque ela acha que algo assim aconteceria, e entra em cena um dos traços mais interessantes dos diálogos do Woody Allen, a mulher “poderosa” que ele parece valorizar sempre nos seus filmes, ela responde “Os homens parecem sempre desejar. Eles acham que eu seria de alguma forma especial”, ele responde perguntando se ela é, e ela diz “Bom, ninguém nunca pediu o dinheiro de volta”.

Essa cena inteira é muito boa, mas esse diálogo é matador dentro do enredo do filme.

As questões narrativas de lado, esse diálogo exemplifica o que eu disse antes. A personagem Nola Rice é um estereótipo da mulher que deixaria qualquer homem de quatro, não por ser a Scarlet Johanson, mas por conta da sua personalidade – a somatória de peculiaridades boas e ruins que formam a sua psique, traços esses que são os que, de alguma forma, mais mexem com o outro sexo. Por ser uma personagem do Woody Allen, ela SABE que é tudo aquilo (normalmente esse tipo de garota não tem tanta idéia assim), e tira um barato da cara de todos os homens que estão assistindo o filme – todos! E não só do Chris.

Bacaníssimo.

Um comentário:

Liene disse...

Além da Angelina Jolie e da própria Scarlet, e falando num plano mais terreno, eu não conheço ninguém assim.

Só gente que talvez pudesse ser assim. E olhe lá.