sexta-feira, junho 08, 2007

Não sei lidar com perdas...

Eu não sou muito bom para lidar com perdas. Quer dizer... eu consigo manter uma atitude racional na maior parte do tempo por mais que por dentro eu sinta pedaços do meu corpo sendo lacerados, mas pra tudo existe um limite e o meu também costuma chegar, e eu prefiro estar sozinho nesses momentos. É engraçado... como alguém que tem uma postura tão arrogante e escrota pode ser tão fraco e sensível como eu. Enfim... por algum motivo eu acabei percebendo que cada perda tem um “gosto” diferente.

Eu sempre fui mais apegado às mulheres da minha família. Talvez por isso eu tenha sofrido muito mais quando minha avó paterna morreu do que quando meu avô faleceu. Quando minha avó morreu senti como se parte de uma história bacana a quilômetros de distância tivesse morrido também, é engraçado como algumas pessoas são o vínculo que unem certos grupos ou assim parecem ser. Era mais ou menos assim que eu via a minha avó Rachel. Ela era, pra mim, o que me ligava a família de Belém, não que fosse menos ou mais importante ou que eu não consiga me relacionar com o pessoal de lá sem ela, mas é porque ela era a justificativa pra que eu pudesse rever meus primos e tios que eu gosto muito apesar da distância. Nós sempre íamos para Belém para ver minha avó, esse era o pretexto.

Do meu avô Francisco, infelizmente, eu conheci muito pouco. Não por falta de tempo, afinal, ele só morreu depois da minha avó, mas porque por mais que eu o amasse igualmente jamais consegui – depois de mais jovem, que é quando realmente nos lembramos das pessoas – me conectar com ele da mesma forma que fazia quando criança. É como se todas as lembranças que eu tenho dele estivesse ligadas as da minha avó, como se não tivéssemos nada somente nosso, o que eu acho um pouco triste. Mas pra tudo isso existe uma justificativa óbvia que é a distância.

Eu sou um homem que chora. Talvez eu tenha dificuldades em chorar na frente dos outros, mas eu choro. No meu quarto, que é o melhor lugar do mundo, porque é meu e aqui eu me sinto seguro. Choro com filmes, com livros, com histórias e me emociono de verdade com as coisas do mundo. Quando meu pai me contou que minha avó tinha morrido, eu chorei, mas o choro de perde é tão diferente do resto. E é tão angustiante. Quando recebi um telefonema da minha tia de Belém dizendo que meu avô tinha morrido e que não conseguiam encontrar meu pai foi diferente, eu não chorei de dor por meu avô ter morrido, eu me desesperei por ter eu que contar ao meu pai que o pai dele morreu, e pior, contar aos meus irmãos também (nisso, graças a deus, minha mãe ajudou). Eu espero que meu filho nunca tenha que contar para mim que o meu pai morreu, eu não desejo isso pra ninguém. E foi tão, tão difícil. Eu tremi e gaguejei, e quando a ficha realmente caiu e eu comecei a respirar errado no telefone meu pai já tinha entendido o que eu não sabia dizer direito.

Hoje minha primeira reação foi descrença. Foi estranho quando recebi a notícia, eu só consegui ficar em silêncio por um tempão. Me deu branco. Eu sempre achei que as pessoas que são mais próximas de mim iam viver para sempre. Por mais que me falem que as pessoas estão envelhecendo, que eu devia passar mais tempo com elas, eu simplesmente ignoro. E agora eu me sinto tão culpado por não ter dado mais atenção quando ela ainda estava aqui, por mais que ela tivesse todos os problemas que tinha. O pior é que eu sei que no máximo daqui a uma semana tudo vai voltar ao normal e eu vou ignorar novamente o fato de que minha mãe, meus avós, meu pai estão envelhecendo e não vou dar toda a atenção que eles merecem, visita-los todo fim de semana ou dizer sempre o quanto eu os amo.

Minha bisavó Dalila faleceu hoje. Eu só consegui chorar quando minha mãe chegou em casa e disse que o Matheus (ao qual eu tive de dar a notícia) estava arrasado e minha avó disse pra ele “Não chora Má, agora a Dadá deve estar jogando cartas com os anjinhos”. Que idiota. E agora eu não consigo mais parar. Minha bisavó foi quem me ensinou a jogar a maioria dos jogos de cartas que eu jogo. Ela, durante boa parte da minha infância, foi minha principal parceira e oponente de buraco. Isso não é pouca coisa tendo em vista que jogar cartas é uma das minhas atividades favoritas, principalmente buraco.

Eu não sou muito bom pra lidar com perdas então eu tento racionalizar, é lógico. Ela já estava muito idosa e senil. Nesses últimos quatro anos operou um câncer e uma fratura no quadril, se mudou trocentas vezes de um lugar pro outro porque era implicante e acabava discutindo com meu avô, minha avó, minha tia avó... E de alguma forma nós tentamos justificar dizendo que dadas as circunstâncias ela foi para um lugar melhor.

Eu que sou filho de judeus com católicos/espíritas e não acredito em religião nenhuma só posso concordar e esperar que seja verdade. Whatever... só precisava desabafar.

2 comentários:

Liene disse...

Você sempre deixou muito clara a importância dela pra você.
Por isso, e por te conhecer, mais do que simples compaixão, eu sinto muito.

fezo! disse...

=(