quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Como anda a sua comunicação? (Texto pós Babel)

Hoje eu assisti Babel.

Não vou falar do filme, embora seja genial. Retrata não só os problemas que ele se propõe, a comunicação em si, mas também todo o conceito de ser humano – das necessidades primitivas como ir ao banheiro e fazer amor aos traumas psicológicos mais profundos. Iñaritu é sem dúvida um dos melhores diretores blockbusters com conceito do planeta. Vou falar sobre comunicação. Nada mais clichê para um cara que faz Comunicação Social na faculdade.

Eu tenho uma grande dificuldade em me comunicar com os outros. Veja bem, até mesmo com textos – que saem mais fáceis pra mim do que palavras – eu acabo sendo mal compreendido ou não sou compreendido e ponto final, como no último post. As pessoas podem até achar que eu sou extrovertido e me comunico com facilidade, às vezes é até a imagem que eu quero passar, mas na verdade é extremamente difícil – é um trabalho que requere observação e cautela. É necessário estar sempre atento.

Não acho que seja diferente com as outras pessoas. Existe uma clara e enorme dificuldade de comunicação entre as partes, tanto verbal como corporal. Isso é também culpa da over-comunication à qual somos sempre expostos. Que é retratada no filme. Somos sempre alvo de uma série de mídias que nos imbuem de informação concentrada o tempo inteiro, sejam as luzes dos outdoors de Tókio, seja a televisão e o rádio, seja a internet, seja a moda, sejam nossos distintos círculos sociais ou a vizinha fofocando no portão. São imagens, sons, vozes, cheiros, sabores, uma gama enorme de informações que nos acanham.

Absorve-se tanto que muitas vezes não sabemos filtrar o que passar a diante. O que vale a pena conversa, discutir, dialogar. O que deve ser dito, como deve ser dito. E tem todo aquele fator psicológico ou moral, não sabemos se dizer tal coisa é ofensivo, se dizer outra é constrangedor, se é um assunto que agrada, se não é. Não sabemos se podemos tocar o braço de alguém, ou falar num tom mais alto. E na escrita então! Na internet, ou escrevemos impecavelmente ou somos analfabetos, se nos corrigem logo estamos na defensiva, ou usamos o discurso como forma de intimidação.

O discurso é pelo que devemos lutar, mas é também uma forma de dominação. Já ouvi dizerem que a comunicação é um dom, mas afinal, se você passa por essa vida sem conseguir se comunicar, o que é você? Um espectro e nada mais, que não vive, passa pela vida sem saber. E a tendência é complicar mais e mais, esqueceram de colocar na regrinha da globalização que todos devem falar a mesma língua ou não há conexão. Se já é difícil pra caramba conseguir se expor e se colocar da forma com que você quer na sua própria língua, imagina em outra?! E antes do filme começar teve uma propaganda de uma escola qualquer de inglês genial, que mostrava as pessoas enrolando numa entrevista de trabalho que o cara que fez não sabia que ia ser transmitida em momento tão propício.

O que resta entender é: se vivemos numa aldeia global, porque parecemos divididos em tribos diferentes, que não conseguem uma comunicação sadia entre si? No final fazemos como, gesticulamos pra resolver nossas deficiências? Eu realmente me sinto um deficiente, até mesmo agora, por não conseguir transmitir exatamente do jeito que acho que deveria a idéia que me passa pela cabeça. Eu me sinto um deficiente por não conseguir manter na maioria das vezes uma discussão sadia com diversas pessoas sobre qualquer tipo de assunto sem passar por um pseudo-intelectual pedante, não porque eu o seja (ou que não o seja), mas porque não existe conexão ou um interesse na comunicação, ou então existe uma deficiência de uma das partes, ou a linguagem do discurso é de alguma forma incompatível com a do receptor.

Esse blog acaba sendo de alguma forma a minha válvula comunicatória de escape. Aqui posso escrever do jeito que eu quiser sem me importar com o receptor, porque são vários, um deles vai entender o discurso, tenho certeza. Mas ainda assim, me sinto deficiente. Fora daqui, é ainda pior, me sinto como um surdo-mudo num lugar cheio de luzes piscando e bocas se mexendo e me dá um desespero porque eu gostaria de entender tudo, e acabo ficando com nada, e porque eu quero dizer tudo e por mais que eu mexa a boca, tudo o que os outros escutando é nada. É como se eu visse sons e escutasse luzes.

Se quiserem saber, na minha visão, qual a moral do filme, é a seguinte: no final, não importa a língua que você fala – somos todos como surdo-mudos, com enormes dificuldades de comunicação, inundados por imagens e informações e sem saber lidar com tudo o que vemos e sentimos em nossa vida – e não importa se somos capazes de decifrar o que o outro (ou a informação) diz, se ele fala baixo e de vagar, sempre vamos entender do jeito que quisermos, sempre jogando sobre a comunicação nossos próprios e horríveis preconceitos, nossas experiências de vida, assim como nossas próprias cegas e medíocres conceituações.

Hoje eu assisti Babel – e vou dormir pensando como seria a vida se eu fosse uma cabra.

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Pós-Escritos:

Ah, o filme é nota 10. Se não assistiu, vá ver. Não vou mentir, é extenso. Nem pense em comprar coca-cola, eu tive que fazer xixi no meio. Brad Pitt numa atuação memorável, assim como o árabe com quem ele contracena boa parte do filme, e a atriz feinha do núcleo japonês é MUITO FODA, mesmo que ela esteja nua 50% do tempo.

Meu próximo post vai ser sobre auto-conhecimento. Seria bacana se vocês pensassem um pouco antes de lê-lo, então já deixo aqui algumas questões (que peço encarecidamente, deixem pra responder no próximo post, atenham-se a essa que eu considero muito importante ;P): o quão bem você pode dizer que se conhece? Você sabe do que tem medo, e é capaz de admitir? Você sabe o que é capaz de aceitar? Existem algumas coisas que você não faz de jeito nenhum? Quais? Você acha que isso de alguma forma ajuda a formar a sua moralidade, ou alguma forma de conduta ética? Existe algum meio pelo qual você aprendeu a se descobrir? Você se descobre a cada dia? Enfim... por ai vai, esse tipo de reflexão por mais óbvia que pareça é sempre muito importante! Eu prometo. Vocês sabem que o Gabs não faria vocês gastarem neurônios por nada ;P

See ya, space cowboys (and cowgirls).

4 comentários:

Anônimo disse...

A muito tempo todos tentam fizar esta idéia de "aldeia global", mas quando se voltam para sua própria mente e vêm que observam mais diferênças com o próximo do que semelhanças, se distânciam de tal forma que nem um mundo poderia aproximá-las.

Num mundo que todos denominam "aldeia global" as pessoas nem se olham nos olhos, e saber o nome da pessoa que mora ao lado da sua casa se torna cada dia mais e mais difícil.

Todos parecem ilhas separadas por enormes oceanos e quando alguêm consegue atravessa-los, toca em seu coração e algo incrível chamado amizade acontece. Somente assim as diferênças desaparecem.

Talvez essas diferênças sejam o toque especial que cada um têm... Talvez por causa dessas suas diferênças alguêm te ache especial...

E a vida segue nessa aldeia global onde os vizinhos nem se conhecem...


Ah, Gabs, e ser diferênte é normal...

:)

Anônimo disse...

"Num mundo que todos denominam "aldeia global" as pessoas nem se olham nos olhos, e saber o nome da pessoa que mora ao lado da sua casa se torna cada dia mais e mais difícil."

concordo com ele. principalmente em São Paulo, onde na Av. Paulista (cito ela, por passar nela todo santo dia) por exemplo, você é praticamente atropelado (vale ressaltar que tanto por carros como por pessoas) a cada cinco minutos. ou então até mesmo no meu serviço, onde a comunicação é muito importante, onde eu tenho diariamente contato com dezenas de pessoas que se quer sei da onde são, se quer sei como são, se quer sei como iriam se reportar através de uma atitude minha...e acredite. isso não as impedem de me xingarem a cada ligação de fazem! (auheuaha.)

falta um pouco de respeito, não sei expecificar bem. essa coisa de "temos que ser frios", "eu não vou dar uma moeda pra esse cara ou vão me olhar torto" ou até "ah cara. ninguém faz, porque EU vou fazer?", é a coisa mais normal nessa "aldeia global".

e a falta de comunicação começa daí. ou talvez de um ponto cujo nunca iremos encontrar.

ficaria meio clichê colocar aqui "a atitude tem que partir de cada um". páporra. ninguém toma atitude e nunca irão tomar.

é gabs. é como vc disse: "a tendência é complicar mais e mais..."

e chega. já está ficando complicado demais para mim.

anotei as perguntinhas. :~
aguardo o próximo post!

Anônimo disse...

jesus amado.
ESPECIFICAR.

da onde saiu esse x?
são as lentes de contato, aposto. u.u

Liene disse...

Acho que a comunicação depende muito da aceitação. De fato, ouvimos qualquer coisa do jeito que nos parece mais interessante.
Mas quando aceitamos o emissor, aceitar a mensagem, compreendendo-a melhor, deve ficar muito mais fácil. - Não perfeito.

Se comunicar bem, transmitir quase totalmente o que se quer é um presente pra poucos. Não digo que é um presente pros inteligentes ou bem articulados. Mas pros bons que encontram bons. Encontrar bons é que é cada dia mais raro. Quase não se vê alguém disposto a ouvir e entender qualquer coisa que seja.

Pros japoneses, por exemplo, o amor só é verdadeiro e forte quando você aceita completamente o outro, não querendo mudar uma vírgula; característica marcada no próprio ideograma de "amor".

Apesar da existência (graças a deus) do debate, insisto que comunicação também é pura e simplesmente sobre aceitação.